
"De volta ao IPO, uma consulta de urgência.
Partilho estes momentos com este pequeno grupo de pessoas que fazem parte da minha vida (160 pessoas, as que dão sentido à minha existência - grupo no Facebook), porque como devem perceber não é facil ser doente oncológico e sempre com a corda ao pescoço, com aquela máxima: "só quero viver!"
De facto estou muito bem em termos de remissão do cancro, mas os efeitos secundários da medicação, poderão alterar a toma do medicamento.
Estou muito em baixo!
Infelizmente não sou aquele rapazito de outrora: forte...
Agora sim preciso muito de vós todos, só quem passa por estas situações é que percebe o desespero...
Já fiz as analises, e o rx.
A aguardar a consulta para despiste."
Nuno Miguel R. S, Gomes
01/03/2023
1. Compreensão do ser humano
no contexto social e existencial
Pretendemos desenvolver resumidamente uma perspetiva Sociológico-Filosófica no domínio da Oncologia e do Sofrimento.
Como Sociólogo entendo como o meio social, cultural e económico influencia a saúde mental e física. Por exemplo, o estigma da doença, o isolamento social, ou a pressão para "ser forte" durante o tratamento. As situações vividas por cada pessoa são sempre desiguais. Cada pessoa vive o sofrimento de forma pessoal e privada.
A Perspetiva Sociológica vê o ser humano em rede, no sofrimento. A sociologia ajuda-nos a perceber como a doença não acontece num vazio: ela afeta redes sociais, papéis e identidades.
1. Estigma e exclusão
Goffman (sociólogo) falava do estigma como uma "marca" que pode alterar a identidade social de alguém. A pessoa com cancro pode sentir-se "diferente", "fragilizada" aos olhos da sociedade, mesmo sem querer. Aqui encontra-se todo o nosso projeto de compreensão. Ajudar na fragilidade humana, este sentir-se "diferente" e onde poderemos agir nesta inter-ajuda.
2. O Papel do doente
Parson (sociólogo) descreveu o "papel do doente" como alguém que é libertado de certas obrigações sociais, mas também tem o dever de procurar cura.
Mas será justo?
Será que a sociedade respeita esse papel ou impõe ainda mais peso?
Há várias questões que queremos abordar consigo e dar-lhe mais perspetivas para saber agir sobre a situação que vai abraçar.
3. Suporte social
A família, os amigos, os profissionais de saúde tornam-se figuras centrais. O doente precisa de relações significativas, empatia e reconhecimento. O isolamento social agrava o sofrimento existencial.
Desempenhamos aqui um papel fundamental para darmos esse suporte.
4. Desigualdades sociais
A forma como uma pessoa vive o cancro depende muitas vezes do seu contexto económico, acesso a cuidados, educação e suporte emocional. A sociologia denuncia essas injustiças estruturais.
Para nós o ser humano é único, privado, e cada pessoa na sua individualidade merece todo o nosso respeito e a nossa atenção extrema. Aqui projetamos uma proposta de AMOR e reconhecimento pela sua singularidade.
Como Filósofo ajudo a refletir sobre o sentido da vida, da dor, da morte e da existência. Isso é crucial para pacientes oncológicos e deprimidos, que muitas vezes enfrentam crises existenciais.
A doença oncológica desperta, no ser humano, questões existenciais profundas:
1. O sentido da vida, da dor e da morte
O cancro confronta a pessoa com a sua fragilidade e mortalidade. Mesmo na dor, é possível encontrar um sentido (Filósofo Viktor Frankl).
2. A doença mexe com o corpo
A doença passa a ser objeto de atenção, medo e fragilidade. Filosoficamente, o corpo deixa de ser apenas "meu" para ser "o corpo que está doente". A doença é vivida de forma permanente. E temos de lidar com os pensamentos dentro de nós, os pensamentos de "morte", de não estarmos bem e isto de forma contínua, constante. É por isso que desenvolvemos um conjunto de raciocínios para sabermos primariamente lidar com os pensamentos.
3. Liberdade e responsabilidade
Sartre (filósofo) via o ser humano como radicalmente livre. Mas numa doença grave, a liberdade parece restringida. Mesmo assim, há sempre escolhas:
a) como enfrentar o sofrimento,
b) que atitudes tomar,
c) como se relacionar com os outros
4. O tempo e a morte
Heidegger (filósofo) falava do ser humano como "ser-para-a-morte". O cancro traz essa realidade para o presente, alterando a forma como se vive o tempo: o agora ganha outra profundidade. Só temos o agora. Em todos os nossos raciocínios irá descobrir a filosofia do agora, do viver o momento presente intensamente.
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Conclusão💗💗
O Sofrimento como experiência humana total
O sofrimento não é só físico, mas psíquico, social e espiritual. Ele envolve perda de controlo, medo do futuro, transformação da identidade, angústia diante do desconhecido. Em contextos como a oncologia, o sofrimento pode gerar crescimento pessoal, revalorização das relações, e até uma reconexão com a espiritualidade ou com o que é mais essencial.
O ser humano no contexto da oncologia é alguém que vive uma travessia profunda: é corpo vulnerável, alma em busca de sentido, e ser social em rede. A sociologia mostra as estruturas e relações. A filosofia ilumina o mistério da existência. E o AMOR — esse sim — é o verdadeiro remédio para o sofrimento humano.
Nuno Miguel R. S. Gomes
(Sociólogo e Filósofo)
Siga para o próximo passo:
2. Apoio à equipa médica na comunicação empática e ética