Raciocínio 49/200
Como ter potência criadora - 5 estratégias: Tolstói: amar e servir

Temos estado a analisar as 5 estratégias que podemos usar para conseguirmos lidar com as outras pessoas:(1)
Estratégia 1 - IVA (imposto de valor acrescentado)
Estratégia 2 - O que é um não assunto
Estratégia 3 - Não chame os outros à atenção
Estratégia 4 - Cale-se por favor!

Hoje iremos finalizar as 5 estratégias com a história de Tolstói(2): amar e servir (uma reflexão apenas), que constituirá a nossa Estratégia 5.(3)

Hoje almocei com um AMIGO (uma amizade com 28 anos [2025])(4). Durante o almoço ele partilhou o seguinte:(5)
Tolstói passou por uma das crises existenciais mais profundas que conhecemos na história da literatura(6). Para ele, a vida perdeu o sentido(7): nem a fama, nem o sucesso literário, nem a ciência, nem a filosofia(8) pareciam responder à pergunta que o consumia(9): "Para quê tudo isto?"(10)

No livro "Confissão"(11), ele descreve esse período de desespero tão intenso(12) que chegou a considerar o suicídio.(13)

Procurou dar sentido à vida em muitos lugares diferentes(14). Foi para o exército(15) na esperança de que o heroísmo o salvasse(16). Buscou nas ciências alguma lei universal que justificasse a existência(17). Mergulhou em sistemas filosóficos(18) e religiosos(19), tentando encontrar uma explicação que iluminasse o vazio interior(20). Nada parecia bastar.(21)

A viragem surge quando começa a observar algo que nunca tinha levado verdadeiramente em conta: a vida simples do povo pobre, dos camponeses(22). Sem fama, sem estudo, sem prestígio e paradoxalmente, pareciam felizes(23). Tinham um sentido: trabalhavam, celebravam, partilhavam(24). Havia ali uma centelha que faltava no seu mundo aristocrático.(25)

Tolstói percebe que o que sustenta essas pessoas é uma fé viva e concreta, não uma teoria(26). Essa descoberta leva-o a investigar profundamente várias tradições religiosas: cristianismo ortodoxo, catolicismo, budismo(27). Em todas encontra um núcleo comum: o amor e o serviço(28). Não como ideias abstratas, mas como práticas transformadoras.(29)

A partir daí, Tolstói muda o rumo da própria existência(30). Começa a viver com simplicidade(31), desfaz-se dos luxos(32), partilha dinheiro e bens(33), trabalha com as mãos(34). Descobre que a alegria pode nascer daquilo que é essencial e não do que é acumulado(35). A aristocracia chama-o de louco(36) mas talvez tenha sido justamente aí que ele se encontrou.(37)

Para ele, a vida ganha valor não por ter(38), mas por dar(39); não por dominar(40), mas por servir(41); não pelo aplauso(42), mas pela utilidade amorosa.(43)

Essa filosofia acompanha também as suas obras tardias(44). Em "A Morte de Ivan Ilitch", por exemplo, Tolstói desmonta a ilusão das aparências e do status(45), mostrando como esses valores afastam as pessoas da autenticidade(46). Nas suas grandes novelas, como "Anna Karénina" e "Guerra e Paz", retrata personagens complexas sem julgamentos(47), revelando que até os erros humanos têm raízes internas compreensíveis.(48)

Influenciado pelo cristianismo e por pensamentos orientais, Tolstói passou a defender a não violência, a compaixão ativa e uma moral fundada na simplicidade(49). Acreditava firmemente que ninguém transforma o mundo sem antes transformar a si mesmo(50), e que o modo como tratamos os outros(51) é o reflexo direto daquilo que somos por dentro.(52)

A lição central que deixou é clara: a vida reencontra o seu brilho quando deixamos de tentar possuí-la(53) e começamos a oferecê-la.(54)

Administrador Abraço fraterno
Nuno Miguel R. S. Gomes
(Sociólogo e Filósofo)

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